Serenata

(crônica de Manoel Carlos Karam publicada em 2 de abril de 2007)

“A minha consciência se manifesta e me mostra que eu sou um mentiroso sempre que passo
por um primeiro de abril
O eufemismo permite chamar minhas mentiras de ficção.
Mas nem tudo é mentira.
Às vezes vem uma verdade disfarçada de ficção.
Quando escrevi o personagem fazendo serenata com piano, o piano na carroceria de um caminhão,
me baseei na verdade.
Conheci o homem que na juventude levava o piano para a serenata.
Chamava-se Antônio.
Meu pai.
Música que ele costumava tocar nas serenatas, La cumparsita, o tango de Matos Rodríguez.

Fiz da verdade uma ficção porque precisava encher páginas e páginas para que aquilo virasse um livro.
A serenata com piano acrescentou um parágrafo.
De parágrafo em parágrafo a gente enche o livro.
E um pouco de verdade aí pelo meio sempre melhora a qualidade das mentiras.”