Marcio Renato dos Santos, jornalista e escritor

“A obra dele talvez seja um labirinto. Mas o legado de Manoel Carlos Karam também se parece com uma casa, onde cada um de seus livros pode representar, por exemplo, um quarto, uma sala, um banheiro, uma garagem, um sótão, uma varanda, um porão, uma cozinha ou um corredor. Se as primeiras visitas a esse endereço causam estranhamento, a cada novo encontro o visitante se familiariza com os detalhes, o humor, as tramas, com as personagens e a dicção do universo Manoel Carlos Karam. Quem sabe esse legado, uma casa em que todos os cômodos-livros estão de fato interligados, seja mesmo um labirinto do qual o leitor conheça a saída, mas deseje permanecer enredado. Na realidade, as páginas dos livros do Karam — das Fontes murmurantes (1985) a Algum tempo depois (2014) — se apresentam como espelhos para o leitor perceber, de repente compreender rindo, a inevitável turbulência e a aparente falta de sentido do cotidiano, entre outras possibilidades. Possível casa, inevitável labirinto, surpreendente espelho, a literatura de Manoel Carlos Karam é uma oportunidade para repensar a vida e a própria literatura. Numa dessas, para se descobrir como impostor nesse permanente baile de máscaras. Ou como um sujeito oculto comendo bolacha Maria, ou cebola, no dia de são nunca.”
– Marcio Renato dos Santos, jornalista e escritor